sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Lembra-se?

Li, ontem, uma matéria na Superinteressante sobre uma mulher que lembra, em detalhes, tudo o que aconteceu a ela nos últimos 28 anos. Fiquei assustada. Tudo?

Óbvio, há coisas que sempre gostaríamos de lembrar, como o nome daquele conhecido que lhe cumprimentou na rua ou aquela fórmula de Física. Mas, e tudo aquilo que você quer detonar da memória, uma gafe, um trauma? Não é à toa que ela sofre de depressão.

Porque a memória é um bicho estranho. Quero dizer, essa tarefa de selecionar o que deve ser guardado do descartável é tão subjetiva. O que é ruim? O que é essencial? E por que diabos a gente é capaz de guardar coisas tão estúpidas? Eu consigo guardar com mais facilidade a data de nascimento de Daniel Radcliffe do que o que foi decidido em Potsdam! (E racho a cara de vergonha).

Minha cabeça sempre me deixa na mão em questões cruciais. Detesto esquecer o que ia dizer, não saber onde está minha carteirinha, não lembrar de fazer dever de casa. Detesto esquecer. Acho que mal de Alzheimer seria mais que frustrante pra mim. É insuportável a idéia de perder pouco a pouco a lembrança de sensações, de lugares, de pessoas. E pra não esquecer, eu escrevo diários.

Um diário é capaz de me fazer viver momentos de novo. Pode parecer mulherzinha, mas é essa a essência: só assim eu posso lembrar a intensidade com que cansei, chorei e amei em algum ponto da minha vida. Rever essas horas me deixam tão... feliz. É como sentir um cheiro que lembra algo por que você sente afeto. É reconhecer aquela pessoa que um dia foi você, mas que já não se lembra.

Sim, a minha memória é falha. Mas eu preencho minhas lacunas com um diário. Vou continuar a esquecer minhas chaves, meus deveres de casa e minhas respostas, porque não sou a mulher da Superinteressante, mas tudo isso é natural. O segredo é usar a memória sabiamente: se lamenta a merda que fez um dia, que não faça a mesma merda depois. E se tem algum momento bom no passado, que não se preocupe em lembrar de seus detalhes, mas em criar sempre mais momentos incríveis. É a lógica da vida não viver de passado e, sim, construir o futuro.


(Mas, por favor, procure trabalhar a memória. É o que eu vou fazer com a minha, depois de esquecer a conclusão muito boa que tinha elaborado e ter de me contentar com essa coisa brega que eu escrevi. Diacho.)