sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bruto esforço cotidiano

Passava na frente da livraria quando a viu, do outro lado da vitrine. Ele levantou a mão, mas calou-se no meio do Ma – melhor não, pensou. Deixou-a estar.

Na frente da vitrine, de camarote, pôs as mãos nos bolsos e ficou a ver as estantes e como ela passeava entre elas. Como meio que dançava entre elas. Como colhia os livros que gostava, os desenhos das capas a chamando. Como fazia caretas para as outras capas mais caladas. Com as mãos no bolso, de camarote, ele ria das caretas.

Via como balançava a cabeça. Como mexia os lábios com a música. Como fechava os olhos. Como era só ela só. E ele escondido.

Com as mãos no bolso, saiu do camarote antes do término do show.

**

Chegou em casa chateada. Ninguém presenciara o espetáculo da naturalidade forçada. Assim, de que servia?

Jogou o livro a um canto, apagou as luzes. Despiu-se e virou ela mesma. Virou na cama e deixou-se virar ninguém.

Até o próximo dia.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A exemplo da Leah, de thxthxthx.com

Querido Julho de 2010,

Obrigada por ter demorado tanto para criar esse frio na barriga gostoso e por ter chegado rápido o suficiente pra me fazer continuar a acreditar que isso está realmente acontecendo.

Seja bem-vindo, e obrigada por trazer tantas mudanças lindas contigo!

Beijos,
Lu


P.S.: Queria fazer uma bilhete bonito a mão igual aos da Leah, mas meus garranchos não saíram muito bem. Espero que não se importe com bilhete via web. Ainda é de coração.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sobre o amor

Gosto de chorar e sentir as lágrimas descendo nas bochechas. E de soluçar chorando.

Minha mãe, não. Ela chora sem fazer barulho e enxuga as lágrimas antes de elas saírem dos olhos quando ela está acompanhada, e é ainda mais discreta quando está perto de mim e de meus irmãos. Trabalho de mãe, essa coisa de esconder sentimento.

Ontem, a gente viu um filme que fez até minha irmã chorar – mas não meu pai. Que eu saiba, ele só chorou com "Querido Frankie" –. Era de uma mãe que perdia uma filha querida pra uma doença que ela, a mãe, demorou para aceitar que levaria a menina sem tardar. É um filme muito cheio de amor. Ao final, a minha mãe deu um beijo nas nossas testas e abençoou nossa noite como sempre faz. Ela chorou sem fazer barulho durante o filme, e fez o mesmo quando abraçou meu pai e escondeu o rosto e mais algumas lágrimas em seu braço. Ainda abraçada com ele, ela me olhou e me flagrou olhando pra ela. E sorriu.

Trabalho de mãe. Esconder que tem todo o sentimento do mundo.