domingo, 4 de outubro de 2009

Gratuita

"Na outra encarnação – digo, se houver outra encarnação – eu quero ser o vento".

Foi o que eu ouvi enquanto passava na roleta do ônibus hoje de manhã. Foi o motorista quem falou. Engraçado, não é preconceito nem nada, mas já vi motorista falar palavrão e contar história da família, mas nunca vi um fazer poesia.

"Oxi, por quê?", respondeu a cobradora (porque ele tava falando com a cobradora).

E ele ficou calado. Ela meio que fez cara de zombaria e eu passei o cartão e rodei a roleta.

Ela não entendeu; mas eu entendi.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Importância seletiva

Acabei de ler um livro que dá margem pra muita reflexão (não, não era a Bíblia. Era bem o oposto disso). Num de seus capítulos, o protagonista pergunta o que é um milhão. Um milhão de quê? Pessoas. Pombos. Centavos. Disse que todo mundo sabe o que uma moeda é capaz de fazer quando jogada de cima do Empire State Building. E aí ele imagina o que aconteceria se começasse a cair moedas de uma altura muito grande em toda a Nova York. Centenas, milhares de moedas abrindo crateras nas ruas da cidade. E ele se esconderia sob um toldo ou na recepção de um prédio com todos os outros que estivessem tentando salvar suas vidas. A cidade inteira procurando abrigo se começasse a chover dinheiro.

Ora, ninguém teria medo de dez mil dólares em Nova York. Mas um milhão de centavos é muito mais que um milhão de centavos, pondo o assunto nessa perspectiva.

Isso iluminou de novo um fato que eu sempre observei e que chegou a virar dois rascunhos, mas nunca um post nesse blog. A significância de qualquer coisa só depende de perspectiva. De qualquer coisa.

Daí vem a importância que atribuímos às coisas. Trinta anônimos que responderam a uma enquete são só trinta anônimos. Trinta vítimas fatais da gripe suína no Brasil são só trinta pobres azarados que eu não conheço. Mas trinta amigos próximos que estivessem em Nova York sem abrigo durante a tal chuva de moedas seria um puta dum sofrimento. Os dois primeiros exemplos são só números frios, mas meus amigos são meus amigos e por isso eu sofro. Sofrimento seletivo é humano.

Porque tudo, tudo é questão de perspectiva. Uma menina gritando por Jonas Brothers ou quebrando o cotovelo de Robert Pattinson é só mais uma que dá importância demais a um cara que não lhe dá importância alguma. E não tem essa de "mentira, eu adoro meus fãs!". O "fãs" aqui só existe no plural. A menina é só mais uma da massa.

E amar a massa é amar ninguém. Amar o ser humano, amar o feminino, o masculino, é amar ninguém. Fazer isso é pôr-se numa posição muito distante do homem, posição que o impede de ver o indivíduo, o indivíduo de fato, e que, assim, o impede de o amar. O que me importa me toca e me afeta de alguma maneira. O que me importa não é um nome, não é um grupo, não é uma definição abrangente e institucionalizada de o que é "ser humano". Se eu gosto de alguém, é por causa de suas peculiaridades. E para vê-las é necessário olhar mais de perto – pedindo licença a Sam Mendes e sua Beleza Americana.

Lamento pelas trinta vítimas da gripe. Pode ser até que eu venha a ser uma delas, só por praga de Deus por eu ser uma "sem-coração". Mas estou muito mais feliz pelas pessoas que eu amo e que ainda vivem do que triste pelos brasileiros vitimados.

Eu amo. É no mínimo uma ironia eu ser "sem-coração".

***


Foi lendo um post de um amigo que me espocou a ideia que acabou virando post. Por isso não tem comentário meu no seu blog dessa vez, Cleber. O meu comentário pro seu último texto é esse texto aqui. Obrigada por me destravar :)

domingo, 5 de abril de 2009

Questão n° 17. Leia a tirinha a seguir:








Agora, explique, com suas próprias palavras, como acontece o humor no diálogo.


Oras, por favor. Se tinha um tipo de questão que me irritava nas provas de ensino fundamental, era esse. Existe coisa mais sem-graça que explicar a piada?

Eu geralmente pensava numa resposta mais legal do que a que eu escrevia. Ela era essencialmente assim:

R: Sim, pois não. O humor se dá, em especial, na dramatização e na resposta do Calvin, que é engraçadíssima, morri de rir. Aliás, não acho que seja assim tão difícil entender como acontece o humor. Você não entendeu a piada, né? Também não vou explicar, vai perder toda a graça. Lê de novo, você consegue fazer isso sem a ajuda de uma criança.

(Porque, naquela época, eu era uma criança.) Óbvio que eu acabava escrevendo algo bem diferente, com alguma coisa sobre inversão de expectativa ou algo do gênero. Eu sabia me adequar aos moldes.

A questão é que eu não conseguia imaginar como alguém conseguia ser tão sem-graça. Mania comum de professor? Ou seriam os adultos em geral todos sem-graça? Porque Calvin é Calvin, oras! E qualquer explicação racional lhe tira o sentido.

E eu ia nessa linha de pensamento até alguns dias atrás, quando entrei na Sabugosa e encontrei Criaturas Bizarras de Outro Planeta (o livro, digo). Enquanto eu lia, percebi que, inconscientemente, eu tentava achar uma explicação razoável para o que o Calvin estava fazendo com o Haroldo. Como diabos eles jogavam baseball, se este é só um bicho de pélúcia?

Só um bicho de pelúcia...

Fechei o livro e os olhos e não soube mais o que estava havendo. Como eu pude pensar algo assim? Estaria eu me tornando, assim... não, não sem-graça, eu procurava uma palavra pior.

Enfim, essa palavra veio com a declaração que a minha irmã fez nesse fim-de-semana, a pior e mais inoportuna que ela poderia ter feito: "Caraca, você faz 18 em menos de um mês!"

18. Menos de um mês.

Puta-que-o-pariu, eu tô virando adulta.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O mundo não é original

Depois de milênios de existência da vida humana na Terra, tudo o que tinha a ser pensado já o foi. Não há mais idéias novas. Pelo menos é essa a impressão que tenho quando vejo o que a imprensa mostra.

Mas, será que o problema está em mim, ou tudo o que vejo é repetitivo? Nada mais me surpreende. Não é mais original pedalar pelado no meio de São Paulo, nem dar a luz a quadrigêmeos, nem usar sutiãs de bacon, nem meninas retardadas de sete anos apresentando programas de TV... Eu estou mesmo desesperançosa com o futuro. E isso porque não param de me chegar exemplos e mais exemplos do que já não é mais original.

Nem buscar ser original é ser original.

Nem questionar o governo, ou os costumes, ou o mundo, nada disso é original!

Nem procurar bandas independentes no MySpace é original.

(Alguém fala pros judeus que o movimento sionista não é mais original?)

Meu Deus, cadê o novo?! Sumiu? Isso é porque a gente se contenta com falta de originalidade e se acostuma com 20 anos de Faustão todo domingo? A gente gosta de ouvir a mesma coisa, ver a mesma coisa, ler a mesma coisa, dançar a mesma coisa, comprar a mesmamesmamesmamesmamesmaMESMACOISA!!

Estou realmente decepcionada com a humanidade.

De repente, me dou conta que o mundo não é original. O mundo não é original. Acho que não existe notícia que caia mais como uma bomba do que essa. Para mim.

Eu sinto a necessidade do descobrimento de talentos. De vanguardistas com conteúdo, ousados, diferentes. Corajosos. Eu poderia sê-lo. Você poderia sê-lo. Mas qual não é o peso de ser original? Os olhares, as críticas, as risadinhas. É o meu desabafo de menina de calças listradas e cabelo de Bozo, que enfrenta todo-santo-dia esse tipo de coisa. E olha que não sou original. Nem de longe. No máximo, diferente.

Num mundo em que o normal é ser comum-insosso, o original é feio. E, infelizmente, não vejo ninguém querendo ser feio – nem alguém que tenha capacidade para tanto.

Diante disso, vou existindo apenas por conveniência.

***

Peço licença agora para fazer uma pergunta pouco original: alguém sabe qual é o sentido da vida?
E viver + sorriso amarelo não vale como resposta.