domingo, 5 de abril de 2009

Questão n° 17. Leia a tirinha a seguir:








Agora, explique, com suas próprias palavras, como acontece o humor no diálogo.


Oras, por favor. Se tinha um tipo de questão que me irritava nas provas de ensino fundamental, era esse. Existe coisa mais sem-graça que explicar a piada?

Eu geralmente pensava numa resposta mais legal do que a que eu escrevia. Ela era essencialmente assim:

R: Sim, pois não. O humor se dá, em especial, na dramatização e na resposta do Calvin, que é engraçadíssima, morri de rir. Aliás, não acho que seja assim tão difícil entender como acontece o humor. Você não entendeu a piada, né? Também não vou explicar, vai perder toda a graça. Lê de novo, você consegue fazer isso sem a ajuda de uma criança.

(Porque, naquela época, eu era uma criança.) Óbvio que eu acabava escrevendo algo bem diferente, com alguma coisa sobre inversão de expectativa ou algo do gênero. Eu sabia me adequar aos moldes.

A questão é que eu não conseguia imaginar como alguém conseguia ser tão sem-graça. Mania comum de professor? Ou seriam os adultos em geral todos sem-graça? Porque Calvin é Calvin, oras! E qualquer explicação racional lhe tira o sentido.

E eu ia nessa linha de pensamento até alguns dias atrás, quando entrei na Sabugosa e encontrei Criaturas Bizarras de Outro Planeta (o livro, digo). Enquanto eu lia, percebi que, inconscientemente, eu tentava achar uma explicação razoável para o que o Calvin estava fazendo com o Haroldo. Como diabos eles jogavam baseball, se este é só um bicho de pélúcia?

Só um bicho de pelúcia...

Fechei o livro e os olhos e não soube mais o que estava havendo. Como eu pude pensar algo assim? Estaria eu me tornando, assim... não, não sem-graça, eu procurava uma palavra pior.

Enfim, essa palavra veio com a declaração que a minha irmã fez nesse fim-de-semana, a pior e mais inoportuna que ela poderia ter feito: "Caraca, você faz 18 em menos de um mês!"

18. Menos de um mês.

Puta-que-o-pariu, eu tô virando adulta.


7 comentários:

GG disse...

Acabo de descobrir que não era o único que acha super sem-noção explicar [voz do Cid moreira] "o humor da tirinhaaa".

Clap,clap,clap pro seu post

Marília Costa disse...

Que droga, não?
Esses dias uma amiga minha tava choramingando os dramas afetivos dela pra mim e eu respondi algo na linha do 'tem coisas mais interessantes pra fazer do que ficar chorando por ele'

E ela:
'Ah, vc não se lembra mais oq é ter 14 anos não?'

18. Em junho. Tá chegando também...

((Krab)) disse...

Acho que já senti algo similar. Foi quando li na Super sobre os escravos de Jó que jogavam canxagá. Acho que nunca tinha reparado que o seu Jó tinha escravos - e não empregados, funcionários, etc e tal.

e uma contribuição do Veríssimo sobre bolinhas de gude.
"Outra coisa: acabo de procurar no dicionário, pela primeira vez, o significado da palavra 'gude'. Quando era garoto nunca pensei nisso, eu sabia o que era gude. Gude era gude."

Paulo Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo disse...

eu me lembro muito bem quando eu era apenas um mero adolescente, eu sentia esses mesmos sentimentos de que o tempo passa (despresando os efeitos relativísticos).

A minha voz da experiência sugere que vós aproveitardes a sucinta passagem intermitente que irárdes passar agora.

Congratulações pelo seu textículo formidável

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Cara, essas crises de "Puxa, não entendo mais O Pequeno Príncipe" sempre nos atacam!
Desde a pré-adolescência me sinto velha demais.
Como fazer agora, que estamos quase batendo de frente com a casa dos vinte?
Cruzes!
Ou é encarar, ou é interromper tudo... Ok, encaremos! ahuahuaha
Beijo, xará.
(Aqui é a Luísa da UnB.)