Ora, ninguém teria medo de dez mil dólares em Nova York. Mas um milhão de centavos é muito mais que um milhão de centavos, pondo o assunto nessa perspectiva.
Isso iluminou de novo um fato que eu sempre observei e que chegou a virar dois rascunhos, mas nunca um post nesse blog. A significância de qualquer coisa só depende de perspectiva. De qualquer coisa.
Daí vem a importância que atribuímos às coisas. Trinta anônimos que responderam a uma enquete são só trinta anônimos. Trinta vítimas fatais da gripe suína no Brasil são só trinta pobres azarados que eu não conheço. Mas trinta amigos próximos que estivessem em Nova York sem abrigo durante a tal chuva de moedas seria um puta dum sofrimento. Os dois primeiros exemplos são só números frios, mas meus amigos são meus amigos e por isso eu sofro. Sofrimento seletivo é humano.
Porque tudo, tudo é questão de perspectiva. Uma menina gritando por Jonas Brothers ou quebrando o cotovelo de Robert Pattinson é só mais uma que dá importância demais a um cara que não lhe dá importância alguma. E não tem essa de "mentira, eu adoro meus fãs!". O "fãs" aqui só existe no plural. A menina é só mais uma da massa.
E amar a massa é amar ninguém. Amar o ser humano, amar o feminino, o masculino, é amar ninguém. Fazer isso é pôr-se numa posição muito distante do homem, posição que o impede de ver o indivíduo, o indivíduo de fato, e que, assim, o impede de o amar. O que me importa me toca e me afeta de alguma maneira. O que me importa não é um nome, não é um grupo, não é uma definição abrangente e institucionalizada de o que é "ser humano". Se eu gosto de alguém, é por causa de suas peculiaridades. E para vê-las é necessário olhar mais de perto – pedindo licença a Sam Mendes e sua Beleza Americana.
Lamento pelas trinta vítimas da gripe. Pode ser até que eu venha a ser uma delas, só por praga de Deus por eu ser uma "sem-coração". Mas estou muito mais feliz pelas pessoas que eu amo e que ainda vivem do que triste pelos brasileiros vitimados.
Eu amo. É no mínimo uma ironia eu ser "sem-coração".
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Foi lendo um post de um amigo que me espocou a ideia que acabou virando post. Por isso não tem comentário meu no seu blog dessa vez, Cleber. O meu comentário pro seu último texto é esse texto aqui. Obrigada por me destravar :)