sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bruto esforço cotidiano

Passava na frente da livraria quando a viu, do outro lado da vitrine. Ele levantou a mão, mas calou-se no meio do Ma – melhor não, pensou. Deixou-a estar.

Na frente da vitrine, de camarote, pôs as mãos nos bolsos e ficou a ver as estantes e como ela passeava entre elas. Como meio que dançava entre elas. Como colhia os livros que gostava, os desenhos das capas a chamando. Como fazia caretas para as outras capas mais caladas. Com as mãos no bolso, de camarote, ele ria das caretas.

Via como balançava a cabeça. Como mexia os lábios com a música. Como fechava os olhos. Como era só ela só. E ele escondido.

Com as mãos no bolso, saiu do camarote antes do término do show.

**

Chegou em casa chateada. Ninguém presenciara o espetáculo da naturalidade forçada. Assim, de que servia?

Jogou o livro a um canto, apagou as luzes. Despiu-se e virou ela mesma. Virou na cama e deixou-se virar ninguém.

Até o próximo dia.

3 comentários:

que se chama Luísa disse...

Redescobri esse hoje, no meio do lixo de rascunhos do blog. Foi escrito há mais de ano, mas faz sentido ainda pra mim. Então postei.

((Krab)) disse...

Cara, gostei.

Anônimo disse...

amei. já compartilhei desse sentimento.
liones