Passava na frente da livraria quando a viu, do outro lado da vitrine. Ele levantou a mão, mas calou-se no meio do Ma – melhor não, pensou. Deixou-a estar.
Na frente da vitrine, de camarote, pôs as mãos nos bolsos e ficou a ver as estantes e como ela passeava entre elas. Como meio que dançava entre elas. Como colhia os livros que gostava, os desenhos das capas a chamando. Como fazia caretas para as outras capas mais caladas. Com as mãos no bolso, de camarote, ele ria das caretas.
Via como balançava a cabeça. Como mexia os lábios com a música. Como fechava os olhos. Como era só ela só. E ele escondido.
Com as mãos no bolso, saiu do camarote antes do término do show.
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Chegou em casa chateada. Ninguém presenciara o espetáculo da naturalidade forçada. Assim, de que servia?
Jogou o livro a um canto, apagou as luzes. Despiu-se e virou ela mesma. Virou na cama e deixou-se virar ninguém.
Até o próximo dia.